A LÂMPADA MÁGICA

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Abriu a gaveta e lá no fundo estava ele junto com outros papéis e objetos inservíveis, mas despertou sua atenção. Pegou e foi examinando, olhou a foto, cogitou em cortar para colar num álbum, mas hoje nem álbuns existem mais. Um passaporte usado, não serve para nada, mas a gente não costuma jogar fora.

Sentou na poltrona e foi olhando os carimbos, foi reconstruindo mentalmente cada situação daquelas. Ela aguardando enquanto o funcionário da imigração ficava olhando, examinava a foto dele e não dizia nada, parecia um longo tempo. Ela esperando com dúvidas se poderia haver algo de errado e comprometer a viagem.

Aquelas letras retorcidas de um carimbo ininteligível que antecedeu o ingresso naqueles lugares tão diferentes como seu alfabeto exótico. Ah! como foi bom.

Entre a entrada no Charles De Gaulle, na véspera do seu aniversário e o registro da saída oito dias depois, havia um pequeno espaço; uma faixa estreita como uma fechadura por onde alguém espia e se deslumbra com o que vê. Aquele breve período foi maravilhoso, o intervalo entre os dois carimbos era um espaço insuspeito de tantas emoções e lembranças inesquecíveis, como um segredo de quem viveu intensamente aqueles dias.

As repetidas marcas de entradas e saídas das viagens profissionais tinham a simetria de um relógio do tédio, como a cronologia de sua ausência. A reiteração tirando o encanto da novidade e a repetição se transformando em rotina. Olhando agora parece que o carimbo das saídas é mais bonito que os das entradas, mas são os olhos desfocados pelo sentimento que causam essa visão alterada.

Ao ver o nome estranho do aeroporto, lembrou-se da areia branca e do mar transparente e instintivamente levou o passaporte ao nariz, para ver se tinha um pouco do cheiro marcante daquela praia fantástica. Fechou os olhos e foi relembrando as imagens, os sons e a doce mistura de odores que nunca iria esquecer.
Assim adormeceu na poltrona e despertou com o passaporte caindo-lhe das mãos. Ficou acordada um bom tempo, lembrando fatos e acontecimentos das viagens, que aquele passaporte magicamente lhe trouxera de volta.

Buscou uma pequena caixa de madrepérola e marchetaria que trouxera do Egito e que nunca teve uma utilidade mais relevante, tirou o que tinha dentro e limpou o pó que havia nela.  Depois colocou dentro o passaporte e junto uma correntinha de ouro que ele usava.

Escolheu um lugar na mesa de centro da sala e lá depositou a caixinha. Secou uma lágrima, depois sorriu. Ficou pensando consigo mesma, se alguém perguntar o que é aquilo, vou responder que é uma versão diferente da lâmpada de Aladim; não atende desejos no futuro, mas traz de volta os do passado...

Música – ENDLESS LOVE – Lionel Ritchie e Barbra Streisand



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