A MELHOR ÉPOCA DE NOSSAS VIDAS

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O título pode parecer meio careta.

Talvez vocês já estejam fartos de ouvir que o tempo da Faculdade era maravilhoso, blá, blá, blá. Porém, a verdade é essa, trata-se de época inesquecível.

Por isso, ao iniciar este artigo para o jornal do CAAR - Centro Acadêmico André da Rocha, do qual fui presidente em 1972, digo para que aproveitem ao máximo esse período, pois é realmente sensacional e depois a gente fica com muita saudade.

Saudade daquele tempo que não tinha computador, nem celular. Vivíamos sob a ditadura e liberdade era “data vênia”. Havia o Muro de Berlim e a guerra do Vietnã, o movimento “Paz e Amor” era um contraponto para a loucura oficial.

No CAAR tradicionalmente as eleições eram entre esquerda e direita; dos candidatos um era da Arena, partido que apoiava a ditadura, e outro alinhado com o PC, o velho partido comunista que mesmo clandestino seguia atuante, e se levavam a sério demais. Concorri contra ambos. O pessoal já estava cansado daquele maniqueísmo, tanto assim que, hoje direita e esquerda nem valem como referencial ideológico, os esquerdistas de ontem são os reacionários de hoje.

Da eleição para o Centro Acadêmico restam algumas lembranças, como o projeto da construção de um Tobogã Erótico no pátio da Faculdade, para debochar das obras faraônicas do governo militar e um inesquecível debate entre os candidatos. Nossa campanha usou o humor e a irreverência para enfrentar o arbítrio carrancudo, foi uma grande vitória.

No início da gestão compramos a primeira mesa de snooker, que está lá até hoje, e em volta dela dissiparam-se as antigas divergências políticas, instaurando-se um clima de enorme camaradagem, uniram-se todos em torno do CAAR, o que aumentou sua representatividade.

Lotamos um ônibus (sem sanitário) e fomos até Salvador, participar de um Congresso de Direito de Família, cujo ponto polêmico era uma revolução nos nossos costumes, introduzir o divórcio na legislação brasileira... O tempora, o mores! Quem foi jamais esquecerá.

Que tempo bom, amizades, amores, alegrias e muito forte um desejo e uma busca de LIBERDADE. Hoje se repete que o “sonho acabou”, mas que nada, ele está vivíssimo. Muito vivo em cada um de vocês.

Agora pode ser época da Internet, da globalização e da instantaneidade, mas sempre será o tempo do jovem apaixonado, querendo Justiça e Liberdade. É bom lembrar que sem ela, não se pode falar em Justiça. E com ela não se transige, não existe ditadura “boazinha” ou defensável. Liberdade é Liberdade, assim como Justiça não aceita adjetivo, pois aí deixa de ser Justiça.

Mais de trinta anos se passaram e aí está o CAAR, diferente e também muito igual. Diferente a tecnologia, a liberdade total, os costumes, a falta de segurança, e especialmente o fato que ficou muito difícil entrar no Direito da UFRGS; mas ao lado dessas mudanças, continua existindo o aluno “vidrado” na colega, e a aluna atormentada pela dúvida se ele não se liga nela ou é apenas timidez... O mundo muda, mas a essência permanece.

Na faculdade é o tempo da camaradagem, depois vem a luta profissional, a competição e o difícil tempo quando nos falta tempo.

As raízes criadas na vida universitária, sejam no estudo e no conhecimento, ou nos afetos que nos unem, são para sempre.

Por isso aprendam, estudem, amem, lutem, curtam e aproveitem, pois talvez, daqui 30 anos, vocês possam estar dizendo:

Foi a melhor época da minha vida.

Texto escrito a pedido da direção do CAAR e publicado no seu jornal PERSPECTIVA em agosto de 2005

Música: FREEDOM – Richie Havens



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