AVE CESAR

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A Ana era tão perfeita, tão certinha que não havia quem não suspirasse quando ela passava. Arrebitada aqui, delgada ali, cheinha lá e com o nariz levemente empinado; o que lhe dava um ar distante e inacessível.
Muitos rapazes eram loucos por ela.

Na festa de seus 15 anos, convidados ou não, todos estavam na sua casa. Foi uma festa típica daquele tempo, quando se fazia esse tipo de comemoração.

Dois dias depois, o Queijinho apareceu no bar onde nos reuníamos, com um sorriso estranho e um pacote embaixo do braço. Abriu o pacote e exibiu um pequeno quadro, com fundo de cartolina escura, sobre o qual se destacavam quatro fios louros retorcidos. Ele esperou que se fizesse silêncio e disse:
-"Meus amigos, oportunidade única.
Colhidos diretamente da sua banheira,
quatro divinos e perfumados fios pélvicos da Aninha."

Houvesse o concurso "top de fetiche" e o Queijinho teria ganho. Aquilo era o máximo. O patife, durante o aniversário, entrara no banheiro dela e colhera do chão do box, seus troféus.
Imediatamente, apesar dos protestos do Bigode, o quadro foi pendurado na parede do bar. Iniciou-se um leilão. O tímido Cesar fez um lance tão alto e absurdo, que evidenciou um insuspeitada paixão pela Aninha. O velho Queijo, nem vacilou, pegou o dinheiro e deu o quadro ao arrematante. Porém antes decidiu "osculá-lo simbolicamente em homenagem à soberba ninfeta."

O Cesar, sempre muito quieto e reservado, disse que o dinheiro do seu lance era para a matrícula no curso pré-vestibular, mas resolveu sair do sério e também enveredou para a poesia, declamando:
"De que vale o saber e a ciência, se a alma está sofrida.
Hei de suturar as chagas do meu coração ferido,
com os louros fios pélvicos da minha bem amada..."

Após os aplausos, o Queijinho providenciou cerveja para todos, dando início a um período de riqueza, que pode ser considerado época áurea da patifaria, tempo inapagável da nossa memória.

O Cesar, por sua vez, desmontou o quadro e colou com esparadrapo os quatro cabelinhos no seu peito, em cima do coração.
Assim passaram-se alguns meses na mais absoluta paz.

Até que, numa noite apareceu o Marco Antonio, primo da Aninha. Quando ficou sabendo do episódio do leilão, fez a surpreendente revelação. O banheiro da sua prima ficava no primeiro piso da casa e o box onde o Queijinho obtivera seus festejados trunfos era o do pai dela, o temido Armandão.

No dia seguinte, na parede do bar, onde antes estivera o célebre quadro, colocaram um cartaz com o seguinte versinho :
"Ó Cesar, Cesar!
Tu sonhas feliz com a Aninha,
enquanto dormes no teu leito.
Só não entendo o que fazem,
os pentelhos do seu Armando
grudados no teu peito ..."

O Cesar apareceu furioso no bar. Diziam que ele estava armado. O Queijinho, que já tinha gasto todo o dinheiro, desapareceu.
Uma semana depois ele deixou no bar um envelope, com uma autorização de matrícula num cursinho, conseguida sabe-se lá como, uma foto 3 x 4 da Aninha e um bilhete escrito:

"A César o que é de César !"

Música – AL DI LÁ – Emilio Pericoli



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