BAR E ARMAZÉM TIMBAÚVA
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No final dos anos 50, a rua João Guimarães não era calçada. Eu morava na segunda quadra, onde ficava o Bar e Armazém Timbaúva. Ali havia música, interpretada por um "regional" composto por um violão, um pandeiro e um chocalho.
Tipos interessantes frequentavam o boteco. Além da música existia um time. O Esporte Clube União da Timbaúva, que marcou época no futebol de várzea.
Não havia violência.
Lembro daquele tempo da mesma forma que a letra do Chico. Gente humilde. Dá vontade de chorar.
Foi no Timbaúva que assisti interpretações memoráveis de músicas dor-de-cotovelo. Velhos gambás cantando todo o repertório de Lupicínio, bebendo Underberg com cachaça, proporcionaram espetáculos inesquecíveis.
Nós guris, como moscas, ficávamos ali pelo bar espiando e andando em volta.
Hoje apelidaram a música de MPB e não é mais nada daquilo.
Tudo mudou.
Lembro da letra de Risque, do Ary Barroso, cantada com inigualável sentimento, na voz fanha e rouca de um daqueles cantores ocasionais, cujo nome nem guardei .
Risque meu nome do seu caderno,
pois não suporto o inferno
do nosso amor fracassado.
Deixe que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Marquemos nosso passado.
Pois só mesmo marcando o passado. O presente é muito diferente.
Não há mais bares, os homens não cantam mais, não há mais intérpretes ao acaso, não há caderno e ninguém mais conhece Risque.
Hoje é o tempo da falta de tempo.
É a época do computador. Tudo se escreve em inglês e tudo é muito rápido.
Não sei se é melhor, mas é assim.
Neste novo mundo da computação, a letra de Risque seria diferente. Em informatiquês:
Delete
Delete meu password do seu notebook
Meu winchester está full,
vou ter que lhe dar um boot (ctrl+alt+del)
Eu vou trocar de software,
vou migrar do Windows para Linux,
mas vou lhe deixar no back up.
No back up da memória ficou o Timbaúva, o Regional do Janga e a gente simples daquele tempo.
MÚSICA: RISQUE Jamelão
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