CHE GUEVARA E A BUNDINHA DA GISELE BUNDCHEN

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Li em algum lugar que, houve protestos irados pelo uso da imagem do Che Guevara no biquini da top model Gisele Bunchen em recente desfile em São Paulo.

A foto clássica do Che hoje é um ícone, uma marca, quase um “Nike” de uma rebeldia nostálgica. Ser guerrilheiro em Cuba, ou morrer tristemente na selva boliviana tinha seu charme na época das ditaduras, quando a revolução era um contraponto legítimo.

Hoje vivemos em democracias e a mais duradoura ditadura é aquela que ele ajudou a criar em Cuba.

O glamour da guerrilha acabou, assim como o sonho do John Lennon e o do garçom do Café Elite em Santo Antônio da Patrulha.

Sem o sonho imaginário ou com recheio de creme, o que falta para essa gente é um mínimo de humor, a capacidade de sorrir e viver fora do fundamentalismo carrancudo. O mal do pensamento único é terrível, leva à desonestidade intelectual e o efeito é contagioso.

Os outrora excelentes autores de textos de humor, após a adesão ao pensamento unitário, não se permitem mencionar os companheiros partidários instalados no poder local, e, assim, perderam a graça; seus textos hoje são uma espécie de humor chapa branca e fariam melhor figura se publicados no Diário Oficial.

É triste isso, não gostaria que fosse assim, mas é o que se vê e o que se lê. Fico com pena.

Por isso, o protesto pela estampa do biquíni da Gisele não surpreende, é coerente com esse ranço, que lembra a condenação imposta por outros xiitas, contra o escritor Salman Rushdie que blasfemou contra o Corão.

A bela cara do Che na foto célebre é patrimônio da humanidade, gostem ou não os neo-trotskistas, já é um produto globalizado, assim como a lata de sopa Campbell’s e a Marilyn Monroe coloridos por Warhol.

A crítica ao uso da imagem revela o traço autoritário dos fundamentalistas, que estão em permanente vigilância nesta ensandecida cruzada do mau humor, que exercem com ferocidade.

Já que antes falei em Santo Antônio, acho que eles todos são fervorosos devotos deste novo padroeiro, o Santo Antônio da Patrulha IDEOLÓGICA, em cujo nome vão sufocando e matando as idéias novas ou diferentes do oficialismo; é possível identificar as caligrafias já gastas do contumazes signatários de notas de apoio de sedizentes “intelectuais”, fiéis devotos do santo patrulhamento.

Para não dizer que não falei de flores ou que me deixei tomar pelo tempero deste vinagre, encerro sugerindo a eles, para que prestem mais atenção na graciosa e empinada bundinha da Gisele, que está muito mais interessante que a estampa do biquíni. E mais, eles que se preparem, pois se a moda do Che realmente pegar, ainda veremos a foto clássica em sunga masculina ou então em comercial de Viagra, acompanhada da frase famosa:

“Hay que endurecer, pero sin perder la ternura.”

Artigo publicado no Jornal Zero Hora em 2002.

Música: SAMBA PA TI - Santana



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