CÚMPLICES NA FELICIDADE

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Texto enviado aos amigos que viajaram juntos ao Japão, em 2006, para assistir ao Campeonato Mundial de Futebol da FIFA, vencido pelo Internacional, e que depois foi publicado no livro “A Conquista de um Sonho”, Ed. Nova Prova, 2007

Tenho recebido maravilhosas mensagens de vocês, que têm me emocionado. Cada um a seu modo relembra os momentos inesquecíveis que vivemos e cada qual quer dividir sua emoção com o grupo. Que legal.

Comigo aconteceu algo interessante, que custei a entender. Ao comentar para a minha família sobre nosso grupo, me dei conta que eu era o segundo ou terceiro mais velho. Mas o incrível é que eu nunca tinha percebido este fato, achava que era uma turma da minha idade, pensava que não havia maiores diferenças. Só então que entendi essa coisa estranha e um pouco mágica, houve uma fantástica coesão entre nós, que fez com que as diferenças se dissipassem.

Médicos, advogados, empresários, funcionários públicos, estudantes, ninguém era diferente, todos eram iguais. Houve um sentimento único, uma alegria coletiva e, ao mesmo tempo, um respeito em relação a cada um e a todos, que nos uniu de uma forma definitiva.

Não podemos falar de outros grupos que se formaram, mas não é pretensão pensar que nenhum terá sido mais feliz e coeso do que o nosso.

Nessas horas não se deve ser modesto, até porque quem torce pelo campeão do mundo pode não sê-lo, para proclamar que isso ocorreu porque: nós somos muito bons...

Fomos ao outro lado do mundo acompanhando nosso time. Tínhamos uma delegação tácita dos que não foram, de representá-los e, em nome deles, apoiar e “empurrar” a equipe em campo. E nós cumprimos nossa missão.

Comprei o CD do jogo nos camelôs do centro, assisti em casa e senti a nossa presença. Não é exagero, nós jogamos com o time. Somos campeões do mundo merecidamente.

Poucas vezes a felicidade pode ser completa e isso aconteceu conosco.

Além de vermos a glória máxima do nosso Internacional ao vivo e participando da conquista, ficamos fazendo parte de um grupo fantástico de pessoas, que passaram a integrar o nosso patrimônio afetivo.

Não era só eu que não percebia a diferença de idade, éramos todos que afastavam qualquer diferença para aumentar o espírito coletivo e fomentar o convívio. A gente sentia que estava vivendo um momento maravilhoso.

As câmeras e filmadoras buscavam eternizar cada um daqueles episódios memoráveis, mas por maior que seja a tecnologia e o talento do fotógrafo/cinegrafista algo escapa do registro na máquina. Por isso o interesse na troca de imagens e filmes que vamos fazer.

Porém, quero tranquiliza-los em relação aos registros da viagem. Há algo que transcende as fotos. É lá na nossa memória e no nosso coração, que não têm megapixels, nem gigabytes, que ficarão marcados de forma nítida e indelével os momentos únicos que tivemos o privilégio de viver.

Tudo, nos mínimos detalhes, está guardado de forma perene dentro de cada um de nós.

Quem ainda não se deparou no espelho fazendo a barba e de repente está rindo sem saber bem por que?

Quem não parou numa fila, num elevador, no trânsito e, sem mais nem menos, vem a lembrança daqueles momentos e se sente leve?

E assim vai ser por muito tempo. No escritório, no consultório, na rua, em casa, sempre vai surgir a evocação daquela experiência fantástica e vai aparecer um brilhozinho estranho no canto do olho, que nos remeterá ao Japão, ao ônibus, ao estádio, ao extraordinário período de nosso convívio.

Nós nunca mais seremos os mesmos.

Meus amigos, não é exagero dizer que estamos vivendo um momento extraordinário de felicidade.

A espetacular conquista do time do nosso coração. E todo este clima indescritível que cercou a nossa estada no outro lado do mundo.

Voltamos campeões do mundo e campeões também dessa amizade fantástica que se instalou entre nós.

É que todos somos cúmplices na felicidade, e essa cumplicidade é total. Por isso sempre estaremos todos e juntos. Campeões e felizes. Acho que isso só acontece com gente boa e ser colorado ajuda muito.

Agora, ao terminar, me dei conta que nem falei quase em futebol, nem fiz qualquer gozação com o adversário local; mas olhando a grandeza de nossa conquista e essa coisa fantástica da nossa união, a constatação foi óbvia: caberia? Claro que não.

Somos colorados, campeões do mundo e temos um grupo de amigos que são cúmplices na felicidade.

Música: HINO DO SPORT CLUB INTERNACIONAL



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