DIPLOMATA POR ACASO

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Estava em viagem e encontrei um amigo, que representava o Brasil num evento internacional. Era um encontro para definir a padronização mundial nos carregadores de telefone celular. Os interesses dos fabricantes eram enormes, cada um querendo que sua tecnologia fosse adotada, pelo evidente ganho no mercado.

A missão dele não era fácil, pois era para apoiar a posição americana, de um padrão único, mas a política externa brasileira não era simpática a qualquer alinhamento explícito com os Estados Unidos. Ele não era diplomata, mas especialista em padronização e normatização, por isso sua missão ficava mais difícil ainda. O embaixador nem o recebeu, apenas a segunda secretária da embaixada, visivelmente contrariada, cumpria uma obrigação, sem lhe fornecer subsídios ou apoio diplomático. Ele que se virasse.

Então aconteceu o pior, o representante americano, sentindo que tinha pouca receptividade com o público, acabou colocando meu amigo para fazer a exposição final.

Pediu que o acompanhasse, e, fui com ele ao local do evento, onde havia estandes de quase todos os fabricantes, com bonitas recepcionistas e shows de tecnologia. Depois almoçamos juntos e, após de um bom vinho e muita conversa, surgiu a idéia, para tentar superar o desafio.

No dia seguinte, na hora marcada, tiveram inícios as apresentações.

Os asiáticos e os europeus fizeram exposições usando recursos tecnológicos, cada qual exaltando as qualidades de seus sistemas.

Quando chegou a vez do Brasil, ele dispensou o computador e o “data-show” e começou dizendo que queria dar um caráter de integração na sua apresentação, pedindo a presença das recepcionistas dos diversos fabricantes, que estavam no saguão.

Houve um certo burburinho, mas vieram suecas lindas da Ericsson, uma morena deslumbrante da Nokia, a japonesa da Sony parecia saída de um anúncio de revista, a Samsung tinha uma modelo negra muito bonita, enfim era um verdadeiro desfile de beleza feminina das mais diversas partes do mundo. Elas ficaram ao seu lado no palco e ele pediu aplausos a elas, que brotaram entusiasmados do público, que era predominantemente masculino.

Então comentou e exaltou as qualidades dos vários fabricantes, mas disse que a posição que defendia era contra a manutenção das individualidades e, que os homens podem ser muito criativos e inventivos, mas o Criador, com “C” maiúsculo, supera a todos. E ali, ao seu lado, estava o melhor exemplo, e perguntou:

“vocês já imaginaram se estas mulheres lindíssimas tivessem sido criadas nos centros de pesquisas das empresas”?

Ante o silêncio geral concluiu:

“Provavelmente, cada uma teria uma conexão diferente”...

O auditório começou a rir, então o grupo em que estávamos puxou os aplausos, que contagiaram a todos e duraram um bom tempo.

A apresentação politicamente incorreta deu resultado.

A proposta da padronização unificada foi vencedora.

Graças a ela, a partir de dezembro de 2014, os celulares de todas as marcas já deverão ser fabricados com uma conexão universal, que deverá ser aquela com mais unidades vendidas no mundo, até a data do evento que estavam participando.

Ao final, todas recepcionistas maravilhosas desapareceram e terminamos a noite num jantar com o representante americano, que ficou completamente bêbado, de tanto fazer brindes pelo sucesso alcançado.

Música: NIGHT LIGHTS - Gerry Mulligan



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