GOL
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Só quem já jogou futebol sabe o que é o desejo de fazer um gol especial.
Sonhar com aquela bola que cai na frente do atacante, um metro além da pequena área, que se bate forte com o peito do pé, estufando as redes, como dizem os narradores. É a glória. A realização.
Porém esse é um lance único, uma situação sonhada, que raríssimas vezes acontece na vida de um jogador.
Com o tempo parei de jogar futebol, sem nunca ter conseguido uma bola dessas, para fazer o gol ideal.
Mas, como ainda corria bem e conhecia os fundamentos, acabei aceitando o convite e fiz curso de arbitragem.
Comecei apitando jogos de amadores e quarta divisão, alguns até pelo interior. Era um ganho modesto, mas com alguma perspectiva de futuro. Como gosto de futebol, era uma forma diferente de seguir ligado nele.
Com o tempo fui subindo na avaliação e passei a dirigir jogos mais importantes. Porém já não acreditava na possibilidade de ganhar mais e não via futuro na carreira.
Então fui escalado para um jogo da primeira divisão.
Domingo de sol, estádio lotado, e eu lá dentro do campo.
Estava ainda no primeiro tempo, quando corri para a área acompanhando uma jogada que vinha da lateral; o ala cruzou, o zagueiro tentou afastar, pegou na canela e subiu.
Caiu bem na minha frente, redonda, risonha, fresquinha e contente.
Eu estava diante do gol. Era a bola que eu sonhara durante toda minha vida. Agora eu era o árbitro, mas a bola era aquela.
Veio um turbilhão na minha cabeça. Não lembro o tempo que durou, fiquei meio ausente e surdo, não ouvia nada, era como se fosse um sonho.
Enquadrei o corpo e chutei com toda a força com o peito do pé. Ela entrou perto do ângulo e a rede afundou, acolhendo a bola como se ali fosse o seu lugar verdadeiro e definitivo.
Continuava sem escutar nada ao meu redor, não olhei para ninguém, apitei, corri para o meio do campo, indiquei o centro, validando o gol, e perdi os sentidos.
Música: THE IMPOSSIBLE DREAM – Elvis Presley
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