A INCOMPETÊNCIA COMO TÉCNICA DE VENDAS

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Os especialistas de vendas costumam afirmar que, a eficiência do garçom é importante para o sucesso de um restaurante.

O Trindade é a prova que, na prática, a teoria pode não funcionar.

Ele era barbeiro de bairro, um fígaro à moda antiga. Seu jeito pacato o tornava benquisto pelos seus clientes, que não eram muitos.

Como ganhava pouco, foi trabalhar à noite. Assumiu como garçom no Bar Paraná, na av. Protásio Alves, que tinha um salão comprido com dez mesas de cada lado, encostadas nas paredes e no centro um corredor que conduzia ao balcão; atrás ficavam a cozinha e os banheiros.

O cardápio era simples e a clientela pouco exigente.

O pessoal se reunia para conversar e tomar chope. Quem estivesse melhor de grana arriscava pedir os pastéis, feitos na hora.

Esse o cenário.

O único garçom era o Trindade. Ia às mesas e tirava o pedido. O chope saía mais rápido e ele logo trazia. A grande questão eram os pastéis. A cozinheira avisava e ele ia buscar, colocava na bandeja e acontecia a grande cena: Ele encarava o salão com aquele seu olhar parvo e opaco e estava escrito na sua fisionomia, que não tinha a menor idéia para quem era o pedido. Tinha esquecido. Isso era sempre. Ele dava até uma breve parada, como se fosse lembrar e, nada...

Então começava sua aventura, bandeja na mão com os pastéis dentro, ia se aproximando das mesas, com o seu ar que era um misto de estupidez e ingenuidade, mostrando os pastéis, sem dizer nada.

Ora, no meio de uma conversa regada a chope, surge um garçom oferecendo pastéis fumegantes, feitos na hora e expostos na bandeja, ninguém recusava e mandava deixar ali. Assim o pedido de uma mesa acabava ficando na outra. Até que, mais tarde, aquele que originalmente pedira os pastéis, diante da demora reclamava:

“Oh Trindade e os meus pastéis”?

Ele não perdia a calma e dizia que era para já. Rumava para a cozinha e pedia mais pastéis.

Deste modo, ao longo da noite ia esquecendo quem havia feito o pedido e acabava entregando em outras mesas.

Nunca na história do Bar Paraná foram vendidos tantos pastéis. A cozinha não parava de trabalhar e sempre o Trindade correndo de mesa em mesa, com a bandeja na mão e seu imperturbável olhar ausente.

Nestes tempos de tantas teorias de vendas e de marketing está aí a história verídica do barbeiro/garçom, que fez enorme sucesso de vendas, graças à sua incapacidade profissional.

Em outras atividades e ramos da vida temos visto alguns trindades fazendo sucesso, a provar que a incompetência e a estupidez têm lá os seus desígnios, que nossa vã filosofia não consegue alcançar...

MÚSICA: IL BARBIERI DI SIVIGLIA - Rossini



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