JOHN e YOKO & a PETROBRÁS

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O Magrão embestou que era o John Lennon. Numa época em que todos eram fãs dos Beatles isso até seria compreensível, mas ele exagerou na dose. Comprou óculos redondos, deixou o cabelo crescer, usava umas roupas que tentavam lembrar as do ídolo e parecia acreditar na sua mudança de personalidade. Pouca ideia e muita maconha ajudavam na composição do tipo; passava o dia tocando um violão sofrível e dizendo umas bobagens. Era considerado inofensivo e ninguém o levava a sério.

Ganhou alguma notoriedade quando começou a andar com a sobrinha do seu Taeda da lavanderia. O par despertava atenção. Era uma japonesinha tão sem graça como a Yoko Ono e foi apenas por isso que ele se interessou por ela.  A coitadinha não atraía ninguém e acabou cedendo ao cerco do John falsificado, para compor a versão local do casal famoso. O que eles não esperavam foi a reação radical do tio, que a expulsou de casa, quando passou um fim de semana fora num festival de rock. Os apelos de “give peace a chance” do cabeludo não surtiram efeito e só aumentaram a ira do velho. Assim, por força das contingências, a dupla fake iniciou sua trajetória.

Deram entrevista num programa local de TV de pouca audiência, que os levou a crer que poderiam viver da fama efêmera e escassa. Só que essa pequena notoriedade não rendia nada e a subsistência dependia de alguns achaques e pequenos golpes. A vida estava difícil para os dois.

Até que surgiu o Queijinho se oferecendo como empresário deles e com umas ideias criativas. Lembrou que o presidente da Petrobrás era um japonês discípulo do Geisel e que a Yoko do Magrão poderia se passar por filha do Shigeaki...

Naquele tempo a refinaria de Canoas estava em obras e sempre havia alguém interessado em se tornar fornecedor da grande estatal. A Yoko fake então passou a frequentar o edifico onde ficava o escritório da empresa e a área de compras. O Queijinho circulava por lá e comentava que ela era “filha do homem”, que podia influenciar no resultado das licitações e direcionar as cartas-convite.

A turma dos espertos, que sustenta que o caminho mais curto entre dois pontos sempre será uma curva, sucumbiu ao argumento sedutor. O malandro pedia uma grana modesta na frente e um percentual mais elevado após o resultado da concorrência. Como ele assediava e convencia todos os participantes, um dos falsos espertos era escolhido e, acreditando que tivesse sido pela influência da Yoko Ueki, pagava o prometido. Isso prova que todo malandro deveria saber que sempre existe um mais malandro do que ele...

Assim passaram a ganhar dinheiro; o Magrão comprou uma guitarra igual à do John, melhorou sensivelmente a qualidade das roupas e até alugaram um apartamento. Mas os perdedores das licitações já estavam começando a desconfiar. Foi aí que resolveram mudar de ares e partir para golpes maiores. Tocaram-se os três para o Rio, para operar junto à sede da empresa, pois lá os negócios eram infinitamente maiores.

A notícia da prosperidade deles chegou por aqui. Estavam agindo em escala nacional e faturando alto. Dizem que até crachá eles já tinham. Falavam de óleo & gás, como quem discute a escalação do seu time. Frequentavam escritórios de empresas, eram convidados para almoços de negócios e aprenderam como era fácil ganhar dinheiro mesmo com corrupção hipotética... Andaram até em Liverpool a convite de um lobista holandês.

Tudo ia muito bem, quando alguém comentou que o presidente da empresa não tinha filha daquela idade. Tentaram contra-atacar dizendo que nascera fora do casamento, mas o prestígio entrou em franco declínio. Era hora de sumir.

Após oito meses reapareceram em Porto Alegre, a bordo dum Opala novinho comprado pelo Magrão e dirigido pelo Queijinho. O antigo achacador agora fazia questão de pagar as contas e mostrar sua riqueza. A japinha continuava sem graça, apesar das roupas melhores e o uso permanente de óculos escuros semelhantes aos da Yoko.

Reuniam os amigos para contar as proezas e foram gastando o dinheiro ganho no Rio. Terminada a grana o Queijinho abandonou seus pupilos e a dupla se desfez. Ele sozinho e movido pela erva ficou paranoico, achando que algum fã poderia querer matá-lo.

Ela que guardou parte do dinheiro ganho, usou sua condição econômica para reconciliar-se com o tio; aportou esse capital na empresa, tornou-se sócia e resolveram incrementar o negócio da família. Abriram uma unidade expressa - gerenciada por ela - a qual deram o criativo nome de: LAVA A JATO...

Música – GIVE PEACE A CHANCE – John Lennon



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