O SORRISO DO NINO

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Além de meu amigo, o Nino é o contador do meu escritório.

Há algum tempo ele me telefonou e disse:

-“Léo, lembras que eu havia falado numa antiga coleção de carteiras de cigarro, que devia estar guardada em algum lugar? Pois é, encontrei na casa do meu pai. Estava tudo dentro de uma lata antiga de biscoitos e está muito bem conservado”.

Só consegui dizer: “Que legal!”

Ele prosseguiu comentando:

“Tem aqui umas carteiras bem interessantes. Conheces “Seqüência?” Há outras feitas para algumas tabacarias do interior, como uma bonita de Cigarros Império; tem também Petit Club e várias outras que nem lembrava. Quando quiseres podes vir buscar, são tuas”.

A resposta não demorou. “Não vou agüentar muito tempo, se não estiveres ocupado, estarei no teu escritório dentro de vinte minutos”.

A mesa do Nino estava coberta de carteiras. A lata antiga de biscoitos Duchen estava aberta num canto, cheia de embalagens de papel e algumas caixinhas. Fui saboreando tudo com os olhos.

Naquela manhã chuvosa, estávamos interrompendo nossas atividades e curtindo aquelas carteiras antigas.

O Nino contou-me que encontrara a lata na casa do pai dele, que tinha 92 anos e trouxera para o escritório.

As carteiras estavam ali, contando um pedaço da vida dele.

A velha lata era como aquelas lâmpadas das histórias do Aladim, mas não era preciso esfregar, nem fazer pedidos, para funcionar como uma máquina do tempo.

Ele olhava para as carteiras, falava da coleção. Disse que costumava ir de bicicleta, junto com outros amigos, até o aeroporto buscar carteiras no lixo da Varig. As embalagens de cortesia, com quatro cigarros, eram a comprovação disso.

Levei as carteiras comigo, organizei com cuidado, fui curtindo uma a uma. As mais especiais mandei enquadrar para colocar na parede.

Parece tudo bobagem. Mas não é.

O interessante é que quando fui buscar as carteiras, o meu sorriso era óbvio e posso até imaginá-lo, pois o Nino estava curtindo a minha alegria e pude ver isso na cara dele. Ele feliz por me dar um presente e eu por recebê-lo.

A vida é feita desses momentos, dois amigos por um motivo supostamente banal, curtem a alegria um do outro.

Tomado pelo mesmo espírito generoso, tempos depois, dei a lata de biscoito, em que vieram as carteiras, para o Davi do Pub, que gostou muito e colocou em destaque junto à sua incrível coleção de objetos antigos.

As carteiras eu só lembro quando as vejo na coleção ou nos quadros, mas não tenho nenhuma dificuldade para lembrar o enorme sorriso do Nino.

Música: SMILE – Tonny Bennet & Barbra Streisand



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