TEORIA DO ARREPIO

Para ouvir o som clique no botão ao lado.

Não existe consenso sobre a melhor forma de medir emoção. Há métodos científicos usando aparelhos, mas falo de um critério perceptível a olho nu, fácil de identificar. Existe uma maneira infalível e até palpável, mas pouco ou nada se fala sobre ela. É a teoria do arrepio.

Ver a pele da mulher com os poros dilatados e os pelos eriçados é a comprovação inequívoca daquela tensão, da excitação que se manifesta. Numa conversa de bar, depois de muito debate foi eleita a região atrás da orelha, perto da nuca ao lado de onde nascem os cabelos, como a mais pudica e eficaz para tocar, beijar, lamber e provocar o arrepio irresistível. Aquele pequeno espaço esconde segredos, que ao sutil toque dos dedos ou carinho similar provoca o efeito que desabrocha na pele. É emoção pura, que se pode medir: Arrepiou, sentiu emoção.

Mas sempre existe a exceção à regra. Um garoto que nos ouvia ficou impressionado com aquela explanação erótica e anatômica e foi experimentar com a namorada. Depois ficamos sabendo, que ele estava empolgadíssimo com os arrepios que provocava, e perguntou se era ele que causava aquilo nela. A resposta foi decepcionante: “É por tua causa sim, estamos em pleno inverno e tu levantas a minha blusa, estou arrepiada é de frio. E, por favor, para de fungar no meu cangote”...

Mas o arrepio não se exaure nas questões eróticas, embora possam ser as melhores. É possível se arrepiar com um hino, uma música, uma voz, um filme, a conquista do seu time ou seleção, uma vitória política, o nascimento ou fato marcante de um filho, susto, enfim em tantos momentos da vida em que a emoção te envolve, domina teu coração e faz brotar na pele a demonstração exterior do que está ocorrendo dentro de ti. É preciso saudar intensamente a emoção e dar muitos e merecidos vivas ao arrepio, que é o oposto enxuto da lágrima.

Soube pelo relato de leitores que algum texto meu já provocou arrepios, o que me deixou contente. Mas, não entendo como um tema tão rico e interessante não tenha recebido a atenção devida da literatura. Por que será que essa epidérmica manifestação de nosso sentimento nunca mereceu o destaque dos escritores e poetas? Baldes de lágrimas inundam páginas e páginas, enquanto o arrepio injustamente jaz seco, abandonado e pouco valorizado, quando é o porta voz autêntico e qualificado da emoção verdadeira.

Seja do lado na nuca, em regiões mais íntimas do corpo, ou nos fatos da vida, é gostoso provocar e, também, sentir o arrepio. A vida está aí para nos propiciar muitos arrepios e ser vivida intensamente. Este texto pode não ter arrepiado ninguém, não faz mal, nem era bem esse o propósito, mas pelo menos fica a sugestão: Emocione-se e pode se arrepiar à vontade, sem se preocupar com a teoria!

Música – WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS – Martin Luther McCoy



Compartilhar:


IR AO ÍNDICE