UBER MACABRO

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O Hélio dizia que iria viver apenas da sua inteligência. O tempo passou e, aparentemente, o plano não deu certo ou faltou inteligência. Mas ele não desistia e seguia tentando. Tinha criatividade e seu último empreendimento é a prova disso.

Com a redução dos voos regionais, deterioração das estradas e multiplicação de radares, constatou que número não desprezível de pessoas, com boa condição econômica, gostaria de dispor de meio confortável e seguro de transporte para o interior, que não fossem seus carros e nem ônibus. Queria criar frota de limusines, com investimento baixo e que os passageiros pudessem até viajar dormindo.

Andava fascinado com a novidade do Uber e pensava num negócio similar, mas a falta de capital era um obstáculo quase intransponível. Então surgiu a ideia original.

Constatou que as funerárias tinham veículos bons e com baixa quilometragem pelo pouco uso. A parte traseira era ampla e permitia colocar uma confortável cama, para que o passageiro pudesse viajar deitado. Fez um cadastramento de empresas, para cessão temporária de seus carros para as viagens; adaptou ar condicionado, luz de leitura e os letreiros foram cobertos por adesivos. Era um negócio onde todos ganhavam, ele, os passageiros e os donos das camionetas, que passaram a ter uma receita antes não existente ingressando, assim, no ramo de transporte de pessoas vivas.

De parte dos usuários houve certa resistência inicial de índole supersticiosa e algum preconceito, mas que foi superada pela excelência do serviço, com a comodidade de viajar confortavelmente à noite e acordar na cidade de destino, ganhando tempo e dinheiro.

Tudo ia bem, até que um passageiro com destino a Santa Maria, viajando à noite, sentiu vontade de urinar e avisou o motorista, que parou num posto na BR-290. O frentista identificou o carro como de funerária e ficou olhando curioso, quando viu ser aberta a parte traseira e descer o defunto para ir ao banheiro. Ficou apavorado e na sua simploriedade concluiu que, ou era assalto ou assombração. Com mão trêmula sacou do revólver e abateu o “fantasma” ou assaltante com dois tiros.

O florescente negócio do Uber macabro do Hélio morreu junto com o passageiro alvejado no posto. A família da vítima move ação contra ele e até há mandado de penhora de bens. Como não tem patrimônio, disse que seu bem de maior valor é a inteligência e perguntou ao seu advogado: “É possível penhorar meu cérebro”?

Música – MARCHA FÚNEBRE – Fryderyk Chopin



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