UMA VEZ UM SUBMARINO AMARELO

Para ouvir o som clique no botão ao lado.

As vezes é possível falar ou escrever de forma que muitas pessoas entendam, mas dependendo das circunstâncias nem todos entenderão.

Este texto foi enviado para alguns amigos meus do tempo da juventude, eles – com certeza – entenderam, pelo que vivemos numa época, parece que não muito distante, mas que já faz mais de 30 anos.

Lembra um sujeito grandão que tinha um Dauphine. O carro era pequeno e fraco, estragava com freqüência. Mas ele dizia que ele era o MIPA. ??????? Para quem não soubesse, MIPA significava: o Mais Inteiro de Porto Alegre.

Isso dito hoje pode não ter graça. Mas na época conhecendo o carro pequeno o sujeito grande e sua naturalidade em divertir-se, com o que outros poderiam queixar-se, era um pouco o jeito de se viver a vida.

O outro carro, da sua família, era uma velha Hudson de cor ocre. Uma enorme banheira que ficava estacionada na Protásio Alves.

Não sei quem deu o nome, mas apelidá-la de Submarino Amarelo foi uma maneira feliz de unir a nossa admiração pelos Beatles, com aquele carrão anacrônico de pintura tão infeliz.

O cara do MIPA e do Submarino Amarelo era um pouco mais velho do que nós. Naquela fase as pequenas diferenças de idade separavam as pessoas e as turmas, mas ele naturalmente integrou-se ao nosso grupo e passou a conviver conosco.

O ponto em comum era a brincadeira, a gozação, o divertimento, uma alegria irresponsável e descomprometida. Era um grande companheiro. Grande também no tamanho e um baita parceiro.

Estava sempre pronto para qualquer programa e seu tamanhão era garantia para enfrentar qualquer bronca, mas as principais lembranças são todas de momentos divertidos.

Formou-se em agronomia. Depois que foi trabalhar no interior, perdemos o contato. Pouco sei ou soube de sua vida profissional ou pessoal. A última notícia que tive é que morava em Santa Catarina.

Hoje, perto do meio dia, recebi um telefonema do Broto, para dar a notícia da morte do Alemão Mauro.

Fiquei o dia todo com sua lembrança na cabeça. Com o dobro da nossa altura e aquele corpanzil eu achava que ele seria eterno.

Agora, antes de dormir, resolvi escrever estas linhas lembrando o Alemão. E assim também lembrei aquele tempo.

Ali na Protásio onde ficavam o MIPA e o Submarino Amarelo talvez já não seja mais permitido estacionar. Com certeza ali nunca mais irá estacionar nenhum Dauphine ou alguma Hudson, seja de que cor for. Mas na nossa memória estarão estacionados o MIPA e o Submarino Amarelo, num espaço tão grande como aquele simpático Alemão Mauro, que, imitando o discurso permanente de formatura do Broto, foi tomar umas brahmas na cervejaria lá de cima.

Música: YELLOW SUBMARINE – The Beatles



Compartilhar:


IR AO ÍNDICE