VER OU NÃO VER

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Durante o banho a vizinha deixava a janela do banheiro entreaberta.

Esgueirando-se e olhando através das frestas da veneziana do seu quarto, o menino conseguia ter a visão dos seus sonhos.

Era uma manobra difícil, pois não podia abrir sua janela, diante do risco de ser flagrado em plena espionagem. Então usava um banquinho, para alcançar o topo de sua janela, que lhe proporcionava um ângulo melhor para espiar.

Ele já conhecia os horários do banho. Ao aproximar-se a hora, fechava a porta do seu quarto, subia no banquinho e ficava aguardando o momento mágico.

Não contou para ninguém.

Fingia naturalidade quando saía do quarto, pensando que na sua casa iam perceber algo, pois já estava se achando um pouco mais adulto.

Um dia não resistiu e contou para seu primo.

O parente na mesma tarde já foi até lá, compartilhar do segredo e também tentar ver a vizinha nua.

A visão que já era difícil para uma pessoa, era quase impossível para dois.

Diante da dificuldade para espiar, o primo, que tinha experiência em computador, sugeriu que usassem uma pequena câmera, colocando-a numa vara de pesca.

Assim poderiam ter visão completa do banheiro e, principalmente, da vizinha.

A proposta aparentemente não o entusiasmou, tanto que ele nem respondeu.

O primo resolveu insistir com sua sugestão tecnológica, prometendo uma visão completa. Falou até na possibilidade de gravar e perguntou qual era o problema.

A proposta não seria boa?

Então o menino espião, que sempre fora o dono da situação, e não estava gostando de dividi-la, pensou mais um pouco, fez um ar de adulto e respondeu encerrando definitivamente a questão:

“Olha, deixa assim, não vou topar; pois pensando bem, eu acho que a graça está em não conseguir ver tudo, pois aí sobra mais para a imaginação”...

Música: THIS BOY – Sean Lennon



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