VOLTANDO AOS 18 ANOS

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Ele estava parado aguardando, para atravessar a rua, quando ouviu atrás uma voz feminina dizendo:

“Será que esse tipo grisalho é o mesmo cara, que conheci cabeludo, dirigindo um fusca bordô e fazia sucesso na nossa turma da juventude”?

Ele não se voltou e respondeu.

“É, sou eu mesmo, e estou reconhecendo a mesma voz, que gostava de ouvir e é de alguém que eu jamais esqueceria”.

O sinal abriu, ele começou a atravessar a rua e seguiu caminhando à frente e falando:

“Por favor, continue me seguindo, prossiga, quero ouvir mais tua voz. Mas eu não quero me voltar, vamos seguir sem nos encarar, o tempo nos mudou bastante e essa nossa conversa está conseguindo trazer volta os jovens que éramos então”.

Ela riu e respondeu.

“Será que estás com medo, achas que vou me assustar? Não te preocupes que não te darei nenhum susto”.

Ele disse:

“Não é nada disso, não é receio. Mas não achas interessante ficarmos com as imagens que tínhamos na nossa juventude? Eu ainda me lembro do teu cabelo loiro, levemente ruivo, caindo na testa, ou então displicentemente preso com um elástico como rabo-de-cavalo”

Ela suspirou, riu e comentou.

“Ah! Se tu soubesses o trabalho que dava para simular um penteado displicente, como dizes, mas que exigia um bom tempo de preparação. Porém, pelo visto, valeu a pena, pois passados tantos anos ainda te lembras dele”...

O diálogo na rua era muito estranho. Um homem caminhando e falando com uma mulher atrás dele, sem que ela procurasse alcançá-lo e ele não se voltando para olhá-la.

Ele retomou a conversa.

“Fico feliz que minha lembrança do teu cabelo te traga alegria. Até parece aquela antiga propaganda de xampu, que dizia que a voz não mudou, mas que o cabelo sofreu mudanças... Agora, com essas nossas recordações, estou voltando a me sentir com 18 anos, dirigindo meu velho fusca, com tua imagem bonita e desejada na minha mente”.

Ela retrucou.

“Olha, pensando melhor, acho que conseguiste me convencer com essa tua idéia um pouco maluca, de falarmos sem nos vermos. É como se fosse uma brincadeirinha da máquina do tempo. Vou entrar nessa. Mas quero impor outra condição, nada de falar sobre o que aconteceu depois do nosso último encontro. Nada sobre profissões, casamentos, separações, filhos, carros ou viagens. OK?”.

Ele interrompeu exultando.

“Isso mesmo. É esse o espírito. Ficamos na nossa juventude e mantemos nesse encontro, observando o nosso trato, a força viva e inalterada dos sonhos que sonhamos, dos desejos que tivemos e que ainda não desapareceram”.

Aquela caminhada, de um atrás do outro, já estava ficando esquisita, então, como passavam perto de uma árvore, decidiram parar, como se estivessem apreciando a natureza, e assim seguiram conversando, daquele modo estranho, sem se olharem.

Foram muitas as lembranças. Falavam apenas sobre o que os uniu e atraiu no passado.

Antes de se despedirem, ele teve uma idéia e perguntou:

“Tens um lenço contigo”?

Ela respondeu :

“Sim, estava usando no pescoço, mas guardei na bolsa”.

“Ótimo”, disse ele, e prosseguiu: “Vamos combinar o seguinte, eu tiro minha gravata, tu pegas teu lenço, nós cobrimos nossos olhos e podemos nos abraçar”.

Assim, em plena rua, um inacreditável casal de olhos vendados, abraçou-se apaixonadamente e, após, selaram o encontro com um beijo, igualmente intenso.

Murmuram algumas frases, voltaram a ficar de costas um para o outro, só então tiraram as vendas dos olhos e, indiferentes ao olhar estupefato das pessoas que passavam, rumaram em direção opostas.

No rosto de ambos brilhava o sorriso luminoso de uma alegria juvenil.



Música: NON E FACILE AVERE 18 ANNI- Rita Pavone



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